A contribuição dos afrodescendentes no desenvolvimento do município de Paranavaí foi lembrada nesta segunda, 19, em sessão solene na Câmara, que mais uma vez comemorou o Dia Nacional e Municipal da Consciência Negra, celebrado dia 20 de novembro, e conferiu o diploma “Personalidades Negras”, as pessoas que se destacaram na promoção da igualdade social nos diversos setores da sociedade.
Foram homenageados: Elheomar Machado (em memória), João Henrique Ernesto de Andrade, Renato Rodrigues dos Santos (Renatinho) e Sandra Regina da Silva Pinheiro.
“É um prazer estar nesta Casa de Leis para comemorar este dia tão importante, que é dos nossos ancestrais, os negros, que vieram da África para ajudar a construir este Brasil. É um grande orgulho participar desta solenidade e também homenagear os nossos queridos amigos que estão aqui presentes, que fazem parte da associação e da comunidade geral. A Anpir nasceu no dia 20 de novembro de 2004 por meio de um grupo de pessoas de bairros que formaram esta associação para mostrar à valorização do negro, à capacidade e à destreza deste povo lutador”, disse a presidente da Associação Negritude de Promoção da Igualdade Racial, Anpir, Luci Maria Dias Honório.
Em seguida, Honório declamou a poesia “Homenagem a Zumbi dos Palmares”, de autoria de Abadá Capoeira, para parabenizar os homenageados da noite, e finalizou seu discurso destacando as comemorações da XXII Semana Negritude e a XII Semana África-Brasil.
Em nome do Legislativo, o vereador professor Carlos Alberto João saudou os homenageados e relembrou da libertação dos escravos e das lutas sociais, pedindo o não retrocesso aos direitos já adquiridos. “O Dia da Consciência Negra deve ser uma data de agradecimento aos negros e negras pelas inúmeras contribuições que fizeram para a nossa cultura e nossa história. Vamos lembrar dos nossos ancestrais, dos quilombos e quilombolas. [...] Uma sociedade feliz é aquela onde há justiça social, sem preconceito e discriminação. Parabéns aos nossos homenageados”, afirmou o vereador.
Para um dos grandes homenageados da noite, a honraria resgata as raízes e reconhece a contribuição do negro na construção do município. “Em nome dos meus amigos, todos presentes aqui, é uma honra muito grande receber esta honraria. A gente sabe da simplicidade de uma associação. Ela não consegue fazer muita coisa, mas só juntar as pessoas e imaginar que elas podem de alguma forma mudar uma vírgula que seja da sua história, isso é maravilhoso. Daqui há 30 anos, 40 anos, eu tenho certeza que a Anpir vai existir porque esta Casa de Leis vai existir. Nos anais desta Casa, está o nome de vários homenageados, de gente que construiu esta cidade, de gente muito simples, que era sambista. [...] Há 30 anos atrás a Anpir não existia e nem estas homenagens. Me sinto muito honrado em receber dos senhores e da senhora esta homenagem, este espaço, porque aqui é chamado a Casa do Povo e se nós estamos aqui é porque o povo também esta nos homenageando através de vocês. Espero voltar mais vezes aqui e ver outros amigos recebendo esta homenagem. Muito obrigado”, proferiu Andrade.
Ao final da solenidade, os integrantes do Grupo Filosofia do Samba (Queixinho, Renatinho e Chicletão), realizaram uma apresentação musical para o público presente. A honraria é uma parceria entre o Legislativo e a Anpir.
CURRÍCULO DOS HOMENAGEADOS
Elheomar Machado
Natural de Loanda, interior do Paraná, do dia 07 de abril de 1986, Léo, como era carinhosamente chamado pelos amigos, era filho de Gecian Pereira Machado e de João Leite Machado.
Foi artista completo e amigo excepcional. Palhaço ator, narrador, cantor, músico, religioso, ótimo filho, humorista, piadista, sensível e apaixonado pela família, principalmente pelo avô Miguel Pereira Lima, abdicou em vários momentos de sua vida, de seus sonhos em prol da família.
Homem de grande fé e cristão fervoroso, quase seguiu a carreira eclesiástica.
Pessoa querida na Paróquia São Sebastião, trabalhou em diversos acampamentos e apresentou na rádio, por muito tempo, um programa religioso.
Bravo lutador pela cultura da igualdade e promoção racial, estudou Direito e Filosofia.
Também era baixista e tocou nas noites em Paranavaí com seus amigos artistas locais.
Participou também de vários projetos culturais e deixou gravações com a parceria do seu amigo João Henrique, companheiro de barzinho nas noites de Paranavaí e de muitos shows emocionantes pela vida, tendo tocado nos show de Zé Geraldo e Almir Satter junto com os amigos Silvio Toledo e João Henrique.
Durante sua trajetória, sempre esteve de sorriso no rosto e braços abertos para acolher a todos, ato que conquistou inúmero amigos.
Faleceu no dia 14 de dezembro de 2015, deixando como legado, seu exemplo de amor e fé, e dedicação à cultura negra.
João Henrique Ernesto de Andrade
Natural de João Pessoa, capital do Estado da Paraíba, do dia 15 de dezembro de 1967, ele é filho de Maria Zélia Silva de Andrade e de Janduhy Ernesto de Andrade.
Aos 5 anos, perdeu seu pai, com apenas 29 anos, vítima de acidente aéreo, deixando mais dois filhos.
Acompanhou sua mãe, durante muitos anos, no trabalho. Radialista e cantora, teve forte influência em sua vida no futuro, como os gostos pela música e o dom da oratória.
Participou dos movimentos musicais em João Pessoa, e começou a trabalhar aos 13 anos de idade, quando parou de estudar.
Em 91 mudou-se para o Paraná para residir com os tios e estudar.
Atuou em eventos de cultura e política, suas grandes paixões durante a juventude.
É um dos fundadores da ANPIR.
Em 2000 formou-se em Direito, e continuou sua vida na arte e na política. Participou de várias campanhas políticas, foi assessor da Câmara Municipal do então vereador e amigo Cesar Alexandre, trabalhou ainda como assessor na Assembleia Estadual do Paraná e na Câmara dos Deputados, em Brasília.
Também se apresentou por várias vezes no FEMUP, Festival de Música e Poesia de Paranavaí.
Ainda, abriu o show de Almir Satter, Zé Geraldo e Zé Ramalho e tocou nos barzinhos da cidade.
Tem um CD produzido em fase final, que gravou com vários amigos, inclusive com seu grande amigo de saudosa memória, Elheomar Machado.
Em 2005, casou-se com a colega de faculdade, Luzimar, com quem tem dois filhos do coração, Bruno e Maria Isabel.
Atualmente exerce a profissão de advogado com a esposa, e também realiza palestras e cursos de oratória há mais de 10 anos.
Ainda se dedica ao louvor na Igreja Avivamento Bíblico, do Jardim Santos Dumont, e contribui com o meio artístico, já que ocupa os cargos de conselheiro Estadual de Cultura e presidente do Conselho Municipal de Cultura. É exemplo de dedicação no resgate e na valorização da cultura negra africana no Brasil.
Renato Rodrigues dos Santos
Ele nasceu em 04 de julho de 1959, no município de Paranavaí. É filho dos saudosos cearenses Waldemar Rodrigues de Souza e Maria Clotilde Rodrigues.
É casado há 36 anos com Cássia Jael Silva de Souza com quem tem as filhas: Késia Renata e Rebeca Caroline.
Estudou na Escola Getúlio Vargas, Colégio Silvio Vidal e Colégio Estadual de Paranavaí.
Começou a trabalhar desde cedo.
Aos 10 anos, já ajudava seu pai na lavoura de café. Foram tempos difíceis, que com a grande geada de 1975, praticamente dizimaram as plantações.
Trabalhou ainda no comércio local, como a Remopar, e Carimbos Noroeste, onde foi funcionário por 8 anos.
Aos 16 anos, ficou conhecido no ACP, Atlético Clube Paranavaí, sendo jogador de renome. Jogou por várias prefeituras da região, e foi campeão em várias categorias, com destaque para os campeonatos de 1979, 1980 e 1981 pelo time da prefeitura de Santo Antônio do Caiuá, e campeão pela São Lucas, em 1985.
No futebol, conheceu o samba, por meio dos amigos do DER, que na sua grande maioria eram negros e também sambistas. Teve como incentivador o finado Zé Caetano.
Começou sua história no samba e na defesa da cultura negra através do samba, na então Escola de Samba Chico Venâncio, localizada no Jardim Panorama, quando o carnaval era forte em Paranavaí.
Foi idealizador com William Nazário do projeto Filosofia do Samba, que consistia em pesquisar a vida e obra dos grandes nomes do samba nacional, além de cozinhar um prato típico originário da cultura negra e se apresentar nas escolas contando a história do samba para as crianças, a qual teve como adeptos o professor Antônio Carlos Queixinho e Wagner Marinho.
Também foi um dos fundadores da ANPIR, com destaque na criação do prato típico servido nos jantares afros no dia da Consciência Negra, a Galinhada Quilombola, visto que um dos seus dons é a cozinha típica africana.
Ainda participa do forró pé de serra todos os anos, quando reúne os amigos do samba para tocar nas festas juninas juntamente com o professor de sanfona Mestre Braga.
Esteve sempre a frente das lutas por igualdade racial e na valorização da cultura africana, seja por meio do samba, da culinária, do futebol e principalmente da música.
Sandra Regina da Silva Pinheiro
Natural de Paranavaí, de 15 de março de 1972, ela é filha de Ereni e Joaquim.
É casada com Laércio Miranda Pinheiro, com quem tem quatro filhas: Daniela, Amanda, Ana Laura e Maria Luiza.
Passou grande parte da infância estudando no Colégio Silvio Vidal, mas iniciou seus estudos no Colégio Duque de Caxias.
Seus avós foram pioneiros em Paranavaí.
Na juventude foi destaque na fanfarra do Colégio Silvio Vidal, como a primeira mulher a tocar corneta, e também fez parte da seleção de handebol da mesma escola, representando a cidade nos jogos interestaduais por várias vezes.
É formada em Enfermagem, pós-graduada em Saúde do Trabalhador, e ainda possui cursos em Gestão e Organização Escolar, e Educação Especial.
Atualmente leciona para os cursos técnicos em Segurança do Trabalho, e em Enfermagem.
Professora engajada em projetos para a valorização da cultura negra nas escolas, reconhece a importância da diversidade e da igualdade. Atualmente desenvolve o Projeto “Diferentes Tons”, no qual trabalha o resgate da autoestima e valorização dos jovens negros, após ser vítima de injúria racial no trabalho. É pessoa dedicada à luta contra o preconceito e a discriminação racial.