A irmã Gracinda da Piedade Alberto recebeu nesta última segunda-feira, 5, em sessão solene na Câmara Municipal de Paranavaí, o titulo de cidadania honorária.
Reconhecida pelos relevantes trabalhos prestados na área social, principalmente a frente do Lar Escola das Meninas de Paranavaí, mais conhecido como Casa da Criança, a honraria proposta pelo vereador Claudemir Barini foi aprovada por unanimidade.
Estiveram presentes autoridades religiosas, como o bispo Dom Geremias Steinmetz, irmãs da mesma congregação, além de autoridades e colaboradores da entidade.
Natural da cidade portuguesa de Leiria, irmã Gracinda chegou ao Brasil em 1968 e desde então dedicou sua vida à comunidade e ao próximo. Em Marília, interior de São Paulo, ajudou nas obras da Congregação das Irmãs de São José de Cluny, local onde também se formou no curso de Assistência Social, e em Paranavaí, administrou juntamente com irmã Francisca Tereza, a Casa da Criança, abrigo para crianças e adolescentes, onde elas assumiram os papeis de cuidar, educar e amar.
Em nome do prefeito Rogério Lorenzetti, a secretária de Assistência Social, Marly Bavia falou sobre o trabalho realizado. “Irmã Gracinda faz parte daquelas pessoas que se doam as causas e deixam seu legado. E eu como secretária, só tenho a agradecer. O que seria da administração pública se não fossem esses parceiros que lutam e mantêm estas entidades abertas atendendo ao público. Muito obrigada”, proferiu Marly.
Barini cumprimentou os presentes e a homenageada. Ressaltou as qualidades e sua marca de serva fiel de Deus. “Pessoa humilde, simples, mas de um coração imenso. Vemos um país com tantos problemas, mas com tantas qualidades. São pessoas como a senhora, que vestem ‘a camisa’ e que promovem a mudança na sociedade de pessoas tão importantes, como as nossas crianças, que são o futuro desta cidade, de um país. A senhora que foi mãe, pai, avó, professora e amiga, e que carrega em seu coração um dos maiores tesouros da vida: a compaixão e o amor ao próximo. Fica aqui minha singela homenagem a essas pessoas que têm coragem de lutar pelo bem das nossas crianças e da nossa cidade”, enalteceu o autor da homenagem.
Aos 78 anos de idade, irmã Gracinda recordou as dificuldades vivenciadas e as várias vitórias alcançadas. Também relembrou de pessoas que corroboraram, mas que já faleceram e ainda, falou da satisfação em manter contato com crianças e adolescentes que passaram pela Casa da Criança. “Foi tudo muito difícil. A infraestrutura era precária, não tínhamos muito alimentos e as dívidas eram tantas, que quase chegamos a perder a casa. Todos os dias aconteciam grandes problemas na instituição, mas quanto maiores eram os problemas, maiores eram as graças que Deus mandava. Com muita luta, dedicação, esforço, amor e coragem, conseguimos, junto com os demais colaboradores, educar os internos e devolvê-los à sociedade. Quase todos estão bem e com família formada. Esta homenagem não é só para mim. É para todas as pessoas que colaboraram e que colaboram para que essa missão seja cumprida”, finalizou seu discurso a homenageada, pedindo uma salva de palma para todos os colaboradores.
Perfil da Homenageada
Nascida em 26 de dezembro de 1937, natural da cidade de Leiria, onde fica a aldeia Bajouca, próxima ao Santuário de Fátima, em Portugal, irmã Gracinda é a caçula dos oito filhos do casal Manuel Francisco Alberto e Olinda da Piedade.
Perdeu o pai quando tinha apenas três meses de idade e ali, naquela pequena aldeia, viveu, cresceu, recebeu os poucos estudos da época e, sobretudo, atendeu o chamado de Deus e ingressou na congregação.
Chegou ao Brasil no dia 25 de janeiro de 1968, oito anos após a chegada da congregação ao país. Deslocou-se para Marília, onde permaneceu durante 20 anos e trabalhou nas obras da congregação, nas creches, paróquia, diocese, grupos de teatro, grupo de jovens... Fazia um pouco de tudo, e, paralelamente, estudava.
Ingressou no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), onde concluiu o colegial. Tempos depois, na Universidade de Marília (Unimar), se formou no curso de Assistência Social.
Depois de Marília, veio para Paranavaí, no Paraná, onde fez outra faculdade, Terapia Familiar e vários cursos de extensão.
Em janeiro de 1988 juntamente com a Irmã Francisca Tereza, foi para a Casa da Criança de Paranavaí, fundada em novembro de 1954, pelo então juiz da Comarca na época, Dr. Sinval Reis.
Eram 29 crianças e adolescentes na faixa etária de 02 a 17 anos, abandonadas e extremamente carentes de carinho e afeto, muitas vezes problemáticas, já que haviam sido tiradas de suas famílias, pois estavam em situação de risco.
Mesmo sem muita estrutura para receber as crianças, as Irmãs Gracinda e Francisca deram o melhor de si para que pudessem levar adiante o propósito que haviam assumido... carinho, afeto, e muito amor.
Apesar do empenho e dedicação, o trabalho realizado pelas irmãs não foi fácil, pois os costumes das crianças eram totalmente opostos aos que queriam que fosse.
Por diversas vezes elas chegaram a levar crianças em carros separados para a Santa Casa, devido a brigas e sérios traumas decorrentes, pois se os internos fossem no mesmo carro, mesmos machucados, continuavam a se agredir.
Eram situações extremamente lamentáveis e chocantes. Além disso, a comida era escassa, a estrutura estava abandonada, e os recursos nunca supriam as necessidades.
Apesar de toda a problemática enfrentada por Irmã Gracinda, quando responsável pela Casa da Criança, ela nunca desistiu e sempre dedicou sua vida ao próximo.